O Taiji Quan ( Tai chi chuan ) tornou-se , provavelmente , muito popular no Ocidente por ser uma “prática” completa , que proporciona bem estar físico e mental sendo, muito adequada àqueles que procuram um estilo de vida mais saudável e adaptado ao ritmo contemporâneo . Por isso , muitas pessoas , hoje em dia , buscam novas ferramentas e outras linguagens que possibilitem uma sensação de maior entendimento e harmonia em suas vidas , reconhecendo a necessidade constante de transformação pessoal devido às crises pelas quais passam nossa sociedade atualmente .
O Taiji Quan , como Arte que exercita não só o corpo , mas o indivíduo como um todo , oferece esta possibilidade de transformação pessoal , pois é um sistema completo , que oferece tanto uma “ filosofia de vida ” quanto um “modo prático” para vivê-la !
O Taiji , é uma das mais sofisticadas expressões da Cultura Chinesa .E como representação e expressão desta Cultura , ele condensa , naturalmente , seus mais altos valores , materializando , através de um sistema teórico-prático , séculos de tradição filosófica que estão embutidos em cada forma , em cada gesto , em cada postura , em cada exercício , existindo ,portanto , uma relação direta entre tradição cultural chinesa e os fundamentos do Taiji Quan . Esses fundamentos são , justamente , fontes valiosas para a transformação do comportamento .
A fim de aprofundar e compreender a relação entre Cultura Chinesa e Taiji , devemos nos reportar , primeiramente , ao contexto histórico-cultural em que o Taiji Quan foi concebido e estruturado . Ao abordarmos esta questão , devemos ser receptivos e cautelosos , pois trata-se de uma Cultura muito diferente da nossa . A diferença está na maneira de conceber , interpretar o mundo e no próprio “modo de ser chinês” , com seu jeito peculiar de ser , de pensar e relacionar-se com o mundo. Imediatamente podemos perceber que este modo particular de pensar e conceber parece ser de natureza integradora , circular ,espiral , que conjuga ,aprofunda onde a realidade é concebida de forma holográfica .
O Taiji Quan , pertence a este “modo holístico” de conceber as coisas , pois o ser humano é sempre percebido em sua relação com o ambiente , possuindo não apenas uma dimensão física , mas também, energética e espiritual : O corpo , a energia, a mente e o espírito são realidades indissociáveis dentro do paradigma chinês .
O “modo chinês de pensar” e consequentemente todas as atividades desta Cultura , baseiam -se numa espécie de raciocínio associativo que , no Ocidente denominamos por “correspondência sistemática ” : Uma espécie de pensamento por correlação , que estabelece ligações entre fenômenos , acontecimentos , enlaçando Homem e Cosmos .
Esse tipo de raciocínio parece intrínseco a esta Cultura desde seus primórdios pois o pensamento chinês entende que a Ordem Cósmica ( o Céu ) em seu ciclo infinito , estabelece as estações do ano na Terra , que por sua vez , estão relacionadas , naturalmente , à época das chuvas , cultivo , colheita , tendo , também , ampla influência no Homem . Por exemplo , a Medicina Chinesa. estabelece que , para cada estação do ano há um órgão , uma víscera , uma enfermidade , uma cor , um sabor , um clima , uma direção , uma emoção, uma qualidade energética , correspondente ou associada . Essas correlações ou associações não são meramente arbitrárias , ao contrário , são baseadas na observação e também na premissa fundamental de que , no Universo as coisas correspondem-se pelo simples fato de tenderem à harmonia .
Para elucidar melhor este conceito e termos noção do quanto este raciocínio é antigo e “fundador”, vamos no reportar à Dinastia Shang (1750 -1040 a C) , cujos Sacerdotes - que também eram chefes dos clãs – perceberam que havia uma ordem cósmica e que esta interferia no mundo natural da Terra e que também o comportamento humano interagia com estas dimensões . Estas correspondências ou influências mútuas entre Céu , Terra e Homem selaram as bases do Pensamento Chinês .
Ao longo do tempo, consequentemente , a produção cultural foi sendo aperfeiçoada , principalmente através dos Pensadores da Época Han (206 a.C.- 220 d.C) . Estes levaram a “correspondência sistemática” ao apogeu, estabelecendo e atribuindo correlações entre todas as manifestações e áreas de conhecimento – Artes em geral , Medicina , Astrologia , organização sócio-política ... Vale lembrar que este pensamento por correlação , cujo princípio aplica-se a qualquer ocasião, está , em última instância , relacionado à conexão primordial , aquela que fundamenta todas as outras : A tríade Céu - Terra – Homem.
O Taiji Quan é uma Arte que reflete claramente este paradigma integrador, pois cada “movimento” corporal foi concebido para ser , necessariamente um “movimento ” mental que é organizado , orquestrado e animado pelo Qi , pela energia que , por sua vez , compõe e anima todos os processos físicos e psicológicos .
Quando executamos a postura da “garça branca que abre as asas”, por exemplo, ao intencionarmos fazê-la (ato mental) , automática e instantaneamente o corpo movimenta-se, animado pelo qi . O “caminho” contrário também pode ser feito : Ao executarmos a postura , nosso estado mental e energético é alterado , pois a “postura física “ estimula” estados mentais ! Portanto as correlações entre Mente , Corpo e Energia são naturalmente experimentadas e estimuladas dentro da prática do Taiji .
Os Orientais perceberam (justamente por causa de sua visão holográfica ) que posturas físicas inspiram estados emocionais . E que , estados emocionais refletem-se no corpo, através das posturas , da aparência e do modo como o corpo se movimenta.
Wilhelm Reich , médico e psicanalista austríaco , transcendendo os conceitos freudianos de sua época , foi o grande estudioso das relações entre o funcionamento mental e corpo físico , desenvolvendo a noção e a importância do conceito de Qi para a promoção e manutenção da saúde como um todo e , notadamente , a saúde da vida psíquica , no contexto da Psicologia Ocidental .
Essencialmente , pode-se dizer que , a pesquisa reichiana apontou diretamente para o fato de que alterações no funcionamento psíquico repercutem no corpo , gerando distorções , bloqueios musculares e posturais , que em última instância, estão intimamente vinculados ao bloqueio do livre fluxo de Energia Vital ( Qi ) , gerando toda a sorte de doenças .
A partir disso , foi possível , para a Psicologia Ocidental, abordar o Ser Humano através do conceito de “ realidade bioenergética” , bem mais próxima do paradigma oriental , reconhecendo o elo entre Mente , Corpo e Qi .
Embora reconheçamos esta realidade bioenergética e o Taiji como disciplina psicossomática , a “mentalidade ocidental” ainda predomina , provocando uma abordagem dissociada e uma percepção limitada da relação estabelecida entre mente , movimento , postura e como tudo isso repercute diretamente no comportamento , na personalidade e na vida do praticante de Taiji . Por isso , sabemos da importância do estudo sob orientação de um professor qualificado , com visão ampla de todo o processo que se estabelece com a prática .
Temos , com o Taiji Quan , uma oportunidade maravilhosa de estabelecer uma outra visão da vida - um tanto incomum para nossa maneira costumeira de lidar com as coisas . Isso porque as Artes Chinesas nos proporcionam vivências e experiências , ampliando nossas possibilidades para além das verbalizações , análises críticas e abstrações . Essa possibilidade de experimentar e vivenciar, que as Artes Chinesas nos proporcionam, se devem ao fato de que os chineses lidam com suas teorias, paradigmas e premissas básicas de modo bastante objetivo e , portanto , de forma muito prática . Parecendo não haver razão, diferentemente da nossa Cultura , em discutir teorias pelo simples prazer de criar ou exercitar o intelecto , se estas não estiverem relacionadas a uma possibilidade prática e concreta de experiênciá-las !
É preciso poder “vivenciar o que é pensado ”, ter a experiência do que algo significa .
Percebemos , portanto , que o paradigma holístico , discutido anteriormente , vai muito além do estabelecimento de associações ou correspondências sistemáticas em termos teóricos , unicamente . Porque uma “teoria”, vem , necessariamente , acompanhada da possibilidade de ser vivenciada ... É mais importante “saber como fazer ” do que “saber que”, no sentido de apenas conhecer ou entender !
Novamente , será necessário retroceder às origens da Cultura Chinesa para que possamos compreender a gênese desta forma pragmática e objetiva de estruturar e elaborar o conhecimento . Foi na dinastia Han , que a base deste modo especial de agir e pensar foi solidificado .
Logo após a Era do Imperador Qin ( 221- 206 a. C.) , os eruditos Han começaram a fazer uma reflexão sistemática de , praticamente , todas as áreas do Conhecimento , organizando , comentando , ampliando o conteúdo dos Clássicos ( in-clusive do I Ching , que , naquela época recebeu atenção especial ) , elaborando, ao máximo, o tipo de raciocínio por correspondência , sempre baseados na relação entre o fenômeno celeste , o mundo natural na Terra e a sociedade humana .
Neste ínterim , o pensamento de Confúcio ( 551 – 479 a. C. ) foi resgatado , suas idéias começaram a formar um corpo literário , através destes estudiosos que organizaram em textos e em diálogos as citações que lhe eram atribuídas , percebendo o quanto esta forma de pensamento se harmonizava com o contexto que na época se desenhava . Era preciso estabelecer alicerces que pudessem oferecer àquela cultura um forte senso de identidade . Surge , então , o Confucionismo marcando , para sempre, a mentalidade chinesa . Este objetivo foi atingido , pois até hoje , os chineses intitulam-se- “Filhos de Han”.
Continuando a tradição de pensamento que lhe precedia , Confúcio , procurou, durante sua vida , um modo de harmonizar o indívíduo à sociedade , que por sua vez estava submetida à Ordem Celeste .
A relação que conduziria o Homem a esta harmonia deveria ser mediada pelo aprendizado . Para Confúcio , todos podem ser homens superiores , plenos , bastando para isso , disposição genuína para transformar-se e aperfeiçoar-se indefinidamente . Portanto, Confúcio estabeleceu uma relação muito particular , muito especial com o “aprender ”, com o Conhecimento .
Esse “aprender ” não é apenas um processo intelectual , é uma experiência de vida . Não há um fosso entre os dois , entre a vida do espírito e a do corpo , entre teoria e prática . O aprender é uma experiência que se “pratica” . O que conta , o que é mais importante não é tanto o Conhecimento de ordem teórica , mas sim, sua “intenção prática”.O Conhecimento , portanto , consiste mais no desenvolvimento de uma aptidão e não tanto na aquisição de um conteúdo intelectual .
Sua proposta , em última instância , consiste mais na importância de “aprender a viver” pois aprender é “aprender a ser Humano” .
Há , em especial , um pensamento de Confúcio que elucida sua peculiar relação com o aprendizado :
“Aprender alguma coisa para poder vivê-la a todo momento ,
não é isto fonte de grande prazer ? ”
O Confucionismo , sedimentado pela dinastia Han , explica , em grande parte , porque os chineses tem uma relação tão concreta e pragmática com o Conhecimento e com o Pensamento . O pensamento de Confúcio forneceu a estrutura definitiva para esta forma de viver que integra duas realidades: A realidade mental , subjetiva à realidade concreta , objetiva . O Taiji , como produto da Cultura Chinesa , foi afetado diretamente por este modo de pensar e viver .
Por exemplo , quando procuramos responder à pergunta :
“O que é Taiji Quan” , muitas vezes , dizemos: “ É uma Arte Chinesa , ou é “ uma filosofia de vida” ou ainda “é uma prática que exercita Mente , Corpo e Espírito” ... O Taiji Quan é , de fato tudo isso . Porque ele proporciona um praticar que é ao mesmo tempo físico e ao mesmo tempo filosófico ! O Taiji Quan , possui conceitos filosóficos que podem e devem ser vivenciados em termos físicos e energéticos . É preciso praticar para entender sua teoria. Mas também é preciso entender sua teoria e filosofia para poder praticá-lo !
O Taiji nos fornece uma possibilidade singular de transformação de atitude e comportamento . Ao praticarmos , vamos , sutilmente , incorporando seus conceitos filosóficos e transportando esses conceitos para a vida diária , em forma de atitudes e comportamentos , sem , muitas vezes , sequer termos consciência disso. Ao praticamos Taiji temos a oportunidade de ter uma experiência direta do que seja aquietar-se , pois os movimentos e posturas foram projetados para que possamos equilibrar o fluxo energético , através da sincronia , fluidez e padrão circular da movimentação . Naturalmente , através da prática constante , essas modificações vão atingindo nossa personalidade , pelo simples fato de “freqüentarmos” a harmonia e o equilíbrio , que passam a não ser mais um conceito ou ideal a ser alcançado através do “entendimento” e do “esforço ” psicológico .Pois não é preciso “forçar” ou “induzir” a mudança de atitude .
Ela se projeta naturalmente na personalidade e na vida do praticante , simplesmente porque há contato direto com o silêncio , com a beleza, com a harmonia e com a flexibilidade contidas nos movimentos de Taiji Quan .
É muito comum , por exemplo , dependendo , é claro do que é buscado com a prática do Taiji , escutarmos um aluno ou colega dizer que percebeu em si mesmo uma mudança interna ou também uma modificação em seu comportamento , modificação esta até desejada , que ele mesmo não sabe explicar como ocorreu... Bem , podemos deduzir que , justamente por ser o Taiji uma atividade não verbal , e que pertence a uma Cultura diferente da nossa , ela ativa os processos mentais inconscientes , desbloqueando pensamentos e sentimentos estagnados , atingindo diretamente o comportamento e a personalidade .
As pessoas muitas vezes relatam que perceberam em si mesmas um aumento da sensibilidade , uma diferença na maneira de lidar com as situações estressantes , sem que para isso , tivessem que se empenhar em um trabalho psicológico específico ...
O Taiji induz a um estado de maior contato interno e de maior percepção e sensibilidade ao meio e às circunstâncias . Assim o praticante torna-se mais adaptado , reagindo com mais eficácia e menos tensão às situações .
Como o Taiji é uma Arte cujo conceito fundamental é o uso da suavidade e da força interior , ao invés do uso da força bruta , o sujeito tem a oportunidade de realmente entender como a flexibilidade e a força interior podem vencer enormes barreiras , pois tanto o treinamento da forma solo , quanto o da forma em dupla ( Tui Shou ) exigem o exercício constante destes conceitos , que na verdade , se transformam em pura técnica e estratégia aplicadas aos movimentos e à atitude psicológica a fim de gerar equilíbrio e harmonia interior . A sensação de quietude interior , então , naturalmente , repercute e avança para além do treinamento , modificando atitudes , reações , transformando o comportamento e , alterando a vida do sujeito .
A oportunidade de estar em contato com a beleza , com a harmonia , integrando a Mente à Energia e ao Corpo , dissolve , espontaneamente , padrões psicológicos , que, de outra maneira , necessitariam de árduo trabalho psicológico.
Por isso, afirmamos no início do texto que os chineses tem uma relação integrada e muito prática com questões que envolvem a existência , como “vida” , “saúde” , “felicidade”, “convivência”, porque esses aspectos não são apenas conceitos , que servem , meramente , de fonte ou alimento para especulações filosóficas ou pesquisas científicas .
É bom comentar que esta relação direta que há entre Teoria e Prática não destitui o Pensamento Chinês da sofisticação que lhe é peculiar, nem o torna facilmente acessível . Sempre encontraremos dificuldades , sejam elas de ordem teórica ou prática . Compreender o conceito “Taiji” , em termos filosóficos , não é tarefa fácil ...Praticá-lo , integralmente , também não é ! Pois eles estão irremediavelmente interligados.
Este é o aperfeiçoamento da alma que a Cultura Chinesa nos proporciona , através do Taiji , Arte do Silêncio e do Movimento, que requer a construção de um espírito paciente , a fim de penetrar num universo tão radicalmente diferente do nosso...
Referências Bibliográficas :
História do Pensamento Chinês – Anne Cheng – Ed . Vozes , 2008
China – Uma Nova História - John Fairbank / Merle Goldman , Ed. L&PM , 2007
O Pensamento Chinês - Marcel Granet , Ed. Contraponto ,1997
O I Ching , O Livro do Yin e Yang – Cyrille Javary , Ed. Pensamento ,1989
Os Analectos – Confúcio , Ed L&PM , 2006
Grã Mestra Shen Hai Min
Demonstração da Grã Mestra Shen Hai Min
TEXTOS de Ana Cloe
A MENTE E OS PARADIGMAS
QUE REGEM A PRÁTICA
É sabido que a mente possui, como atribuição que lhe é própria , o mecanismo subjetivo de discriminar , generalizar , julgar , proferir verdades e se identificar com estes mesmos mecanismos a fim de criar um conjunto mais ou menos organizado , que denominamos “ ego” .
Aos poucos e até mesmo inconscientemente , estes mecanismos subjetivos que estruturam nosso Ego , vão se cristalizando e formam o que chamamos de PARADIGMA : Nosso sistema de crenças , nosso referencial interno , nosso ponto de vista , o modelo a partir do qual pautamos nossas escolhas e regulamos nosso comportamento...Enfim , o paradigma é o modo como concebemos o mundo e a nós mesmos.
Assim , podemos afirmar que: a escolha pelo Tai Chi , a maneira como alguém se relaciona com ele e conseqüentemente a maneira como o sujeito movimenta seu corpo , sejam , enfim , o reflexo de um paradigma... O reflexo do que o Tai Chi representa mentalmente .
Por exemplo: Se eu entendo que o Tai Chi é uma prática relaxante , provavelmente este aspecto será por mim priorizado e posso não dar muita importância à maneira como tecnicamente deveria movimentar meu corpo . Ou ainda : Se penso que o Tai Chi tem uma enorme eficácia marcial , eu poderia querer especializar - me na arte do Tui Shou ...Estas percepções da realidade , que nos motivam , em última instância , nos mostram como os paradigmas interferem no curso , no aprendizado do estudante .Também os professores , com seus paradigmas , priorizaram a forma e o conteúdo do seu próprio aprendizado , interferindo , naturalmente na maneira de conduzir as aulas ...
O principal objetivo dos exemplos citados é justamente demonstrar como os paradigmas podem “ raptar a magnitude ” do Tai Chi , tornando-o submetido às concepções e às necessidades de cada um , tornando-o demasiadamente restrito , “pessoal” como um “refém” do Ego , onde as pessoas não estão dentro do sistema Tai Chi , mas , ao contrário , fazem com que o Tai Chi seja e esteja dentro delas , com se ele devesse adaptar-se ao Ego e não o contrário... . Como se o Tai Chi tivesse a personalidade do próprio praticante . Isso causa toda uma série de desvios e enganos.
Muitas vezes , as pessoas têm , por diversos motivos e talvez um deles seja justamente o paradigma por elas adotado , muita dificuldade de estarem submetidas aos motivos , às regras e técnicas que são parte da essência da arte , que conferem identidade e personalidade ao sistema Tai Chi . Com isso , insistem em imprimir seus Egos na forma e movimento , cometendo um engano , pois deveria ser o Tai Chi a estar se imprimindo nelas. Como se o contato com a essência desta Arte estivesse impedido pelas próprias limitações da percepção pessoal da realidade . Às vezes é preciso “sair um pouco “ de si mesmo , entregar-se e , realmente experimentar o Tai Chi . Ter coragem para enfrentar nossas limitações sem maquiagens ou manipulações mentais . Por isso a prática do Tai Chi pode ser uma maravilhosa experiência de auto- conhecimento , de conciêntização de processos inconscientes que regem nosso comportamento e nossa relação com o Tai Chi Corremos o risco de conhecer apenas a ponta do iceberg !
Todos nós , em geral , realmente temos que cultivar nossa atitude de abertura , entrega e confiança , já que temos a tendência natural de sermos dominados pela mente , ou seja , pelas nossas necessidades , pelo Inconsciente , pela nossa história de vida...Tudo isto termina “escoando” para a prática do Tai Chi.
Tai Chi é um conceito filosófico . Então , para que possamos representar o Tao através das Formas , do Tui Shou , teremos que procurar adequar nossos paradigmas , elevar nossa compreensão e entrega .A mente , inquieta como de costume, busca “recriar condições ” que se adaptem à demanda de conforto do Ego , onde os fatores que dificultam o progresso sejam “eliminados” , sem muito esforço ! Com isso , a essência do Tai Chi é perdida . O Ego procura perfeição , porém , através de seu próprios métodos .
Os movimentos devem intencionar à perfeição corporal e energética .A exatidão deve ser buscada , simplesmente porque assim é o Tao . Por isso , há necessidade de adaptar-se às regras da Forma e movimentação.
O Tai Chi é definido também por “meditação em movimento”. Meditação como um estado de quietude , gerado por um fluxo energético incessante, contínuo , desobstruído. Por isso , há necessidade de respeitarmos os requisitos técnicos , baseados na lógica energética do equilíbrio . Tai Chi é a Arte do equilíbrio . Os movimentos são projetados para expressar alternância entre Yin e Yang . Isto precisa acontecer internamente para ser expressado através do movimento . Esta é a intenção . Às vezes , atribuímos outra intenção ao movimento. Esta intenção é a “nossa própria e não a do movimento em si.. ” O aperfeiçoamento da arte , da dita meditação em movimento viria então , com a capacidade da alternância dos estados Yin e Yang , contextualizado em um determinado movimento. Deve-se pois , alcançar um estado de despojamento da sua própria identidade energética , entregando-se , o praticante , inteiramente à demanda energética de cada movimento.A identificação com determinado padrão gera um desequilíbrio de forças , uma polarização . Deve-se trabalhar cada movimento com a intenção de retornar incessantemente e continuamente ao estado de fluidez, desobstruído , não tendencioso , não articulado a qualquer idéia pessoal de como as coisas devem ser .
Na verdade , o Tai Chi flui para a ausência , para o silêncio , para a meditação. Nossa verdadeira identidade também é vazia e ausente. Devemos fluir para este encontro ... Por isso , precisamos conhecer alguns mecanismos que regem o funcionamento mental para que possamos realmente experimentar o Tai Chi . A mente não deve ser negligenciada, pois seus mecanismos podem ser veículo ou o maior impedimento para que se apreenda o que é a essência do Tai Chi : “ausente e silenciosa “ .
QUE REGEM A PRÁTICA
É sabido que a mente possui, como atribuição que lhe é própria , o mecanismo subjetivo de discriminar , generalizar , julgar , proferir verdades e se identificar com estes mesmos mecanismos a fim de criar um conjunto mais ou menos organizado , que denominamos “ ego” .
Aos poucos e até mesmo inconscientemente , estes mecanismos subjetivos que estruturam nosso Ego , vão se cristalizando e formam o que chamamos de PARADIGMA : Nosso sistema de crenças , nosso referencial interno , nosso ponto de vista , o modelo a partir do qual pautamos nossas escolhas e regulamos nosso comportamento...Enfim , o paradigma é o modo como concebemos o mundo e a nós mesmos.
Assim , podemos afirmar que: a escolha pelo Tai Chi , a maneira como alguém se relaciona com ele e conseqüentemente a maneira como o sujeito movimenta seu corpo , sejam , enfim , o reflexo de um paradigma... O reflexo do que o Tai Chi representa mentalmente .
Por exemplo: Se eu entendo que o Tai Chi é uma prática relaxante , provavelmente este aspecto será por mim priorizado e posso não dar muita importância à maneira como tecnicamente deveria movimentar meu corpo . Ou ainda : Se penso que o Tai Chi tem uma enorme eficácia marcial , eu poderia querer especializar - me na arte do Tui Shou ...Estas percepções da realidade , que nos motivam , em última instância , nos mostram como os paradigmas interferem no curso , no aprendizado do estudante .Também os professores , com seus paradigmas , priorizaram a forma e o conteúdo do seu próprio aprendizado , interferindo , naturalmente na maneira de conduzir as aulas ...
O principal objetivo dos exemplos citados é justamente demonstrar como os paradigmas podem “ raptar a magnitude ” do Tai Chi , tornando-o submetido às concepções e às necessidades de cada um , tornando-o demasiadamente restrito , “pessoal” como um “refém” do Ego , onde as pessoas não estão dentro do sistema Tai Chi , mas , ao contrário , fazem com que o Tai Chi seja e esteja dentro delas , com se ele devesse adaptar-se ao Ego e não o contrário... . Como se o Tai Chi tivesse a personalidade do próprio praticante . Isso causa toda uma série de desvios e enganos.
Muitas vezes , as pessoas têm , por diversos motivos e talvez um deles seja justamente o paradigma por elas adotado , muita dificuldade de estarem submetidas aos motivos , às regras e técnicas que são parte da essência da arte , que conferem identidade e personalidade ao sistema Tai Chi . Com isso , insistem em imprimir seus Egos na forma e movimento , cometendo um engano , pois deveria ser o Tai Chi a estar se imprimindo nelas. Como se o contato com a essência desta Arte estivesse impedido pelas próprias limitações da percepção pessoal da realidade . Às vezes é preciso “sair um pouco “ de si mesmo , entregar-se e , realmente experimentar o Tai Chi . Ter coragem para enfrentar nossas limitações sem maquiagens ou manipulações mentais . Por isso a prática do Tai Chi pode ser uma maravilhosa experiência de auto- conhecimento , de conciêntização de processos inconscientes que regem nosso comportamento e nossa relação com o Tai Chi Corremos o risco de conhecer apenas a ponta do iceberg !
Todos nós , em geral , realmente temos que cultivar nossa atitude de abertura , entrega e confiança , já que temos a tendência natural de sermos dominados pela mente , ou seja , pelas nossas necessidades , pelo Inconsciente , pela nossa história de vida...Tudo isto termina “escoando” para a prática do Tai Chi.
Tai Chi é um conceito filosófico . Então , para que possamos representar o Tao através das Formas , do Tui Shou , teremos que procurar adequar nossos paradigmas , elevar nossa compreensão e entrega .A mente , inquieta como de costume, busca “recriar condições ” que se adaptem à demanda de conforto do Ego , onde os fatores que dificultam o progresso sejam “eliminados” , sem muito esforço ! Com isso , a essência do Tai Chi é perdida . O Ego procura perfeição , porém , através de seu próprios métodos .
Os movimentos devem intencionar à perfeição corporal e energética .A exatidão deve ser buscada , simplesmente porque assim é o Tao . Por isso , há necessidade de adaptar-se às regras da Forma e movimentação.
O Tai Chi é definido também por “meditação em movimento”. Meditação como um estado de quietude , gerado por um fluxo energético incessante, contínuo , desobstruído. Por isso , há necessidade de respeitarmos os requisitos técnicos , baseados na lógica energética do equilíbrio . Tai Chi é a Arte do equilíbrio . Os movimentos são projetados para expressar alternância entre Yin e Yang . Isto precisa acontecer internamente para ser expressado através do movimento . Esta é a intenção . Às vezes , atribuímos outra intenção ao movimento. Esta intenção é a “nossa própria e não a do movimento em si.. ” O aperfeiçoamento da arte , da dita meditação em movimento viria então , com a capacidade da alternância dos estados Yin e Yang , contextualizado em um determinado movimento. Deve-se pois , alcançar um estado de despojamento da sua própria identidade energética , entregando-se , o praticante , inteiramente à demanda energética de cada movimento.A identificação com determinado padrão gera um desequilíbrio de forças , uma polarização . Deve-se trabalhar cada movimento com a intenção de retornar incessantemente e continuamente ao estado de fluidez, desobstruído , não tendencioso , não articulado a qualquer idéia pessoal de como as coisas devem ser .
Na verdade , o Tai Chi flui para a ausência , para o silêncio , para a meditação. Nossa verdadeira identidade também é vazia e ausente. Devemos fluir para este encontro ... Por isso , precisamos conhecer alguns mecanismos que regem o funcionamento mental para que possamos realmente experimentar o Tai Chi . A mente não deve ser negligenciada, pois seus mecanismos podem ser veículo ou o maior impedimento para que se apreenda o que é a essência do Tai Chi : “ausente e silenciosa “ .
DICAS impotantes para a PRÁTICA
do Tai chi com a ESPADA
A ) Sigam os princípios do Taiji :
- O movimento começa pela cintura ( Tan-tien ) , arredondem as articulações , ombros e cotovelos abaixados , joelhos flexionados , topo da cabeça “leve” , passos firmes e suaves , pernas e braços coordenados pelo eixo ( cintura-tronco) . O peso vai junto com o movimento .
B ) Sigam a regra dos 70% :
- Não estiquem os braços , não deixem a postura ficar “angulosa” ou tensa desnecesariamente . Procurem o círculo dentro do movimento .
C ) A energia ( CHI ) ,
precisa passar através da espada :
- Os cotovelos flexíveis são essenciais para que a energia “corra” através da espada . Em todas as posturas .
- Lembrem-se : Para que a espada emita energia de “corte” , técnicamente devemos seguir as seguintes etapas : Primeiro a guarda (punho da espada) e , por último a lâmina . Isso evitará que suas espadas pareçam vassouras ... Lembram-se ?
- Suas espadas precisam “emitir” e/ou expressar uma série de energias: cortar , retalhar , penetrar , estocar , furar , bloquear ...
D ) O braço esquerdo :
- Normalmente “defende” , fazendo movimentos circulares , projetando-se ligeiramente antes da espada .
E ) A mão esquerda :
- Precisa fazer corretamente o MUDRA ( postura dos dedos e da mão) que representa a “outra” espada .
- Na maioria das vezes esta mão faz contato com o pulso ou ombro direito . Mas , cuidado : “ O braço direito não é cabide para a mão esquerda”.
F ) Atitude :
- Mantenha a mente concentrada e o espírito alerta . O olhar deve expressar vivacidade e “ir” guiando o movimento . Não abaixe a cabeça , não olhe diretamente para a espada . Concentre-se na direção do movimento , “alongando” sua intenção ...
Por Ana Cloe
do Tai chi com a ESPADA
A ) Sigam os princípios do Taiji :
- O movimento começa pela cintura ( Tan-tien ) , arredondem as articulações , ombros e cotovelos abaixados , joelhos flexionados , topo da cabeça “leve” , passos firmes e suaves , pernas e braços coordenados pelo eixo ( cintura-tronco) . O peso vai junto com o movimento .
B ) Sigam a regra dos 70% :
- Não estiquem os braços , não deixem a postura ficar “angulosa” ou tensa desnecesariamente . Procurem o círculo dentro do movimento .
C ) A energia ( CHI ) ,
precisa passar através da espada :
- Os cotovelos flexíveis são essenciais para que a energia “corra” através da espada . Em todas as posturas .
- Lembrem-se : Para que a espada emita energia de “corte” , técnicamente devemos seguir as seguintes etapas : Primeiro a guarda (punho da espada) e , por último a lâmina . Isso evitará que suas espadas pareçam vassouras ... Lembram-se ?
- Suas espadas precisam “emitir” e/ou expressar uma série de energias: cortar , retalhar , penetrar , estocar , furar , bloquear ...
D ) O braço esquerdo :
- Normalmente “defende” , fazendo movimentos circulares , projetando-se ligeiramente antes da espada .
E ) A mão esquerda :
- Precisa fazer corretamente o MUDRA ( postura dos dedos e da mão) que representa a “outra” espada .
- Na maioria das vezes esta mão faz contato com o pulso ou ombro direito . Mas , cuidado : “ O braço direito não é cabide para a mão esquerda”.
F ) Atitude :
- Mantenha a mente concentrada e o espírito alerta . O olhar deve expressar vivacidade e “ir” guiando o movimento . Não abaixe a cabeça , não olhe diretamente para a espada . Concentre-se na direção do movimento , “alongando” sua intenção ...
Por Ana Cloe
ESPADA TAI CHI
– CONSIDERAÇÕES INICIAIS TAI CHI TIEN
A arte do manejo da espada , pode ser comparada à arte da caligrafia: Requer exatidão , refinamento , onde a espada , assim como o pincel , deve tornar-se a extensão do braço do artista e também deve representar sua energia interior , sua energia pessoal.
Na prática com a espada , três aspectos devem ser lembrados : O primeiro deles pode ser novamente comparado ao uso do pincel , na caligrafia chinesa :A espada deve ser segurada de uma maneira relaxada – não fortemente “agarrada” como fazem os japoneses , com suas espadas e pincéis: Os calígrafos japoneses dão pinceladas fortes e vigorosas e os calígrafos chineses fazem uso maior da suavidade e como no Tai Chi Chuan, praticam a idéia do Yin e Yang , da neutralização e emissão de energia.
Um segundo aspecto , muito peculiar , diz respeito ao fato de que: Ao aplicarmos um golpe , este deve ser objetivo e muito preciso... No momento em que é desferido um golpe cortante no corpo do oponente , por exemplo, o praticante deve mirar num dos pulsos ou em algum ponto específico , de circulação de CHI , para impedir que o adversário use a sua espada. Isto significa que se deve saber exatamente onde golpear , para que seja despendido um mínimo de energia .
O terceiro ponto , talvez o mais profundo de todos os três , é que a prática da espada deve trazer à tona nossa força interior e também as “energias intrínsecas”_( JIN’S) . A ponta e a lâmina da espada se tornam uma extensão de nosso corpo enquanto expressam essas energias. Isto só pode ser atingido através da habilidade em relaxar, trazendo a energia do fundo dos pés até a ponta da espada , ou seja , soltando e direcionando a energia intrínseca para tornar a aplicação precisa e efetiva.
Muitos Taoístas praticam a espada como Chi Kung e mesmo marcialmente , pois a espada é uma arma completa em si mesma .
Os dois mais famosos centros para a prática da espada Tai Chi estão localizadas em Hua Shan e nas montanhas Wu –T’ang . Estes dois centros , juntamente com as famílias Chen e Yang , têm ajudado a promover e preservar a arte da espada Tai Chi.
A maneira tradicional de executar as formas de espada é um pouco mais rápida do que a execução das formas de mãos livres . Aliás , as armas em geral não são praticadas de forma idêntica às formas solo , principalmente no que diz respeito à velocidade. As armas desenvolvem outras habilidades , além do enraizamento , desenvolvimento do chi e intenção mental. A espada desenvolve as mãos , os braços e ensina o praticante a estender a energia intrínseca através da arma e também expressar as sutilezas dos movimentos Yin e Yang .
Bem , vale lembrar também que as formas de espada , podem ser executadas de forma lenta , como quando se pratica as formas de mãos livres. Sun LuTang ,por exemplo , o idealizador do estilo Sun de Tai chi,desenvolveu esta maneira de praticar a espada.Ele também era um adepto de Pa kua e Hsing-Yi . Escreveu um livro sobre espada Pa Kua , que não foi completado devido a sua morte.Enfim , sua maneira lenta de conduzir a espada influenciou muitos praticantes de Tai Chi.
A espada possui um tassel atado a ela , o que cria mais uma razão para que se pratique de forma mais rápida , pois , de outra maneira , simplesmente o tassel não seria utilizado. O tassel, expressa o grau de habilidade no manejo da espada , pois é um elemento a mais a ser integrado e utilizado harmoniosamente . Ele conduz alguns movimentos , dando graça e beleza à forma , podendo ser usado também de forma ofensiva , tornando a prática muito refinada. Assim,os movimentos da lâmina , aliados ao do tassel , podem ser também um dos indicadores do nível atingido pelo praticante.
Em relação à mão esquerda , podemos dizer que esta possui uma função de suporte à espada:Os dedos indicador e médio , juntam-se , enquanto o polegar é dobrado sobre o dedo mínimo , como se a mão fosse transformada em uma outra espada.... Esta espada invisível estimula a circulação de CHI através dos pulsos e pode ser usada para atingir o oponente em seus pontos vitais.Vale lembrar também que o braço e a mão esquerda dão graça e beleza aos movimentos da espada , harmonizando o fluxo de energia.
T. T. Liang , principal discípulo de Chen Man-ching , dizia que , na mística tradição da Espada Tai Chi , o praticante deve cultivar seu espírito até poder juntar-se aos imortais...
A espada atravessa os tempos e portanto fascina culturas pelo mundo afora , como símbolo de poder iniciático... Ícone da coragem e poder.
No Oriente , a espada é arte , arte espiritual, veículo da transcendência.
Na iconografia budista, por exemplo, a espada evoca o ato de “cortar” a ignorância e a ilusão, exorcisando-as da consciência....Na tradição Taoísta , os Imortais “apontam o caminho “ com suas espadas. Aliás , “o Imortal aponta o caminho” é também o nome de uma das primeiras posturas na forma de Espada Tai Chi. Os princípios da Espada , se bem compreendidos e cultivados , devem guiar-nos à iluminação, ao estado de Shen Ming , de realização , onde a espada não é mais necessária , onde há somente a“arte sem arte”...
Quando praticamos as formas com qualquer tipo de arma , devemos desenvolver a habilidade de enviar nossa energia além do nosso corpo,ou seja , o Chi deve animar os movimentos , deve expressar-se através e para além de nossas mãos...A espada , como arma nobre e sofisticada , deve condensar a maestria do Chi.
As energias intrínsecas , ou as diferentes qualidades e expressões da energia interior , ou “JIN” ,devem ser cultivadas através da alquimia interna: O SHEN/YI (espírito-mente) e o CHI, quando relacionados , levam a uma expressão energética que deve ser transmitida à espada . Seus movimentos devem expressar diferentes qualidades energéticas , diferentes manifestações. Por exemplo : Além de Peng Jin ( a energia de expandir) , Lie Jin( a energia de cortar , partir , dividir) , Fa Jin ( a energia de emitir) , Li Jin ( a energia de ceder ), San Tzu Jin ( a energia de espiralar), a espada requer também outras qualidades de Jin como a energia do açoitar , interceptar , apunhalar ,bloquear , penetrar ...
Essas energias fornecem as chaves umas das outras , desenvolvendo nossas faculdades sensitivas , pois também são aspectos internos de uma postura.
Quando praticamos, a energia intrínseca é dirigida para as mãos , estendida para fora , expressando o Jin através da espada.Assim , a arma expressa todo o fluxo energético.Vale lembrar também, que as armas mantém todos os outros princípios clássicos de movimentação, próprios ao sistema Tai Chi.
OBS: Este texto é uma compilação e tradução livre , que procurou elucidar algumas idéias contidas na introdução do livro: “Tai Chi Thirteen Sword- A Sword Master’s Manual” de Stuart Olson . Esse livro é uma compilação de uma série de escritos reunidos pelo autor , que, com o auxílio de três grandes mestres de espada , Chen Wei Ming , Hsiung Yang ho e T. T. Liang , tornou possível o acesso a estes conhecimentos em língua inglesa.
– CONSIDERAÇÕES INICIAIS TAI CHI TIEN
A arte do manejo da espada , pode ser comparada à arte da caligrafia: Requer exatidão , refinamento , onde a espada , assim como o pincel , deve tornar-se a extensão do braço do artista e também deve representar sua energia interior , sua energia pessoal.
Na prática com a espada , três aspectos devem ser lembrados : O primeiro deles pode ser novamente comparado ao uso do pincel , na caligrafia chinesa :A espada deve ser segurada de uma maneira relaxada – não fortemente “agarrada” como fazem os japoneses , com suas espadas e pincéis: Os calígrafos japoneses dão pinceladas fortes e vigorosas e os calígrafos chineses fazem uso maior da suavidade e como no Tai Chi Chuan, praticam a idéia do Yin e Yang , da neutralização e emissão de energia.
Um segundo aspecto , muito peculiar , diz respeito ao fato de que: Ao aplicarmos um golpe , este deve ser objetivo e muito preciso... No momento em que é desferido um golpe cortante no corpo do oponente , por exemplo, o praticante deve mirar num dos pulsos ou em algum ponto específico , de circulação de CHI , para impedir que o adversário use a sua espada. Isto significa que se deve saber exatamente onde golpear , para que seja despendido um mínimo de energia .
O terceiro ponto , talvez o mais profundo de todos os três , é que a prática da espada deve trazer à tona nossa força interior e também as “energias intrínsecas”_( JIN’S) . A ponta e a lâmina da espada se tornam uma extensão de nosso corpo enquanto expressam essas energias. Isto só pode ser atingido através da habilidade em relaxar, trazendo a energia do fundo dos pés até a ponta da espada , ou seja , soltando e direcionando a energia intrínseca para tornar a aplicação precisa e efetiva.
Muitos Taoístas praticam a espada como Chi Kung e mesmo marcialmente , pois a espada é uma arma completa em si mesma .
Os dois mais famosos centros para a prática da espada Tai Chi estão localizadas em Hua Shan e nas montanhas Wu –T’ang . Estes dois centros , juntamente com as famílias Chen e Yang , têm ajudado a promover e preservar a arte da espada Tai Chi.
A maneira tradicional de executar as formas de espada é um pouco mais rápida do que a execução das formas de mãos livres . Aliás , as armas em geral não são praticadas de forma idêntica às formas solo , principalmente no que diz respeito à velocidade. As armas desenvolvem outras habilidades , além do enraizamento , desenvolvimento do chi e intenção mental. A espada desenvolve as mãos , os braços e ensina o praticante a estender a energia intrínseca através da arma e também expressar as sutilezas dos movimentos Yin e Yang .
Bem , vale lembrar também que as formas de espada , podem ser executadas de forma lenta , como quando se pratica as formas de mãos livres. Sun LuTang ,por exemplo , o idealizador do estilo Sun de Tai chi,desenvolveu esta maneira de praticar a espada.Ele também era um adepto de Pa kua e Hsing-Yi . Escreveu um livro sobre espada Pa Kua , que não foi completado devido a sua morte.Enfim , sua maneira lenta de conduzir a espada influenciou muitos praticantes de Tai Chi.
A espada possui um tassel atado a ela , o que cria mais uma razão para que se pratique de forma mais rápida , pois , de outra maneira , simplesmente o tassel não seria utilizado. O tassel, expressa o grau de habilidade no manejo da espada , pois é um elemento a mais a ser integrado e utilizado harmoniosamente . Ele conduz alguns movimentos , dando graça e beleza à forma , podendo ser usado também de forma ofensiva , tornando a prática muito refinada. Assim,os movimentos da lâmina , aliados ao do tassel , podem ser também um dos indicadores do nível atingido pelo praticante.
Em relação à mão esquerda , podemos dizer que esta possui uma função de suporte à espada:Os dedos indicador e médio , juntam-se , enquanto o polegar é dobrado sobre o dedo mínimo , como se a mão fosse transformada em uma outra espada.... Esta espada invisível estimula a circulação de CHI através dos pulsos e pode ser usada para atingir o oponente em seus pontos vitais.Vale lembrar também que o braço e a mão esquerda dão graça e beleza aos movimentos da espada , harmonizando o fluxo de energia.
T. T. Liang , principal discípulo de Chen Man-ching , dizia que , na mística tradição da Espada Tai Chi , o praticante deve cultivar seu espírito até poder juntar-se aos imortais...
A espada atravessa os tempos e portanto fascina culturas pelo mundo afora , como símbolo de poder iniciático... Ícone da coragem e poder.
No Oriente , a espada é arte , arte espiritual, veículo da transcendência.
Na iconografia budista, por exemplo, a espada evoca o ato de “cortar” a ignorância e a ilusão, exorcisando-as da consciência....Na tradição Taoísta , os Imortais “apontam o caminho “ com suas espadas. Aliás , “o Imortal aponta o caminho” é também o nome de uma das primeiras posturas na forma de Espada Tai Chi. Os princípios da Espada , se bem compreendidos e cultivados , devem guiar-nos à iluminação, ao estado de Shen Ming , de realização , onde a espada não é mais necessária , onde há somente a“arte sem arte”...
Quando praticamos as formas com qualquer tipo de arma , devemos desenvolver a habilidade de enviar nossa energia além do nosso corpo,ou seja , o Chi deve animar os movimentos , deve expressar-se através e para além de nossas mãos...A espada , como arma nobre e sofisticada , deve condensar a maestria do Chi.
As energias intrínsecas , ou as diferentes qualidades e expressões da energia interior , ou “JIN” ,devem ser cultivadas através da alquimia interna: O SHEN/YI (espírito-mente) e o CHI, quando relacionados , levam a uma expressão energética que deve ser transmitida à espada . Seus movimentos devem expressar diferentes qualidades energéticas , diferentes manifestações. Por exemplo : Além de Peng Jin ( a energia de expandir) , Lie Jin( a energia de cortar , partir , dividir) , Fa Jin ( a energia de emitir) , Li Jin ( a energia de ceder ), San Tzu Jin ( a energia de espiralar), a espada requer também outras qualidades de Jin como a energia do açoitar , interceptar , apunhalar ,bloquear , penetrar ...
Essas energias fornecem as chaves umas das outras , desenvolvendo nossas faculdades sensitivas , pois também são aspectos internos de uma postura.
Quando praticamos, a energia intrínseca é dirigida para as mãos , estendida para fora , expressando o Jin através da espada.Assim , a arma expressa todo o fluxo energético.Vale lembrar também, que as armas mantém todos os outros princípios clássicos de movimentação, próprios ao sistema Tai Chi.
OBS: Este texto é uma compilação e tradução livre , que procurou elucidar algumas idéias contidas na introdução do livro: “Tai Chi Thirteen Sword- A Sword Master’s Manual” de Stuart Olson . Esse livro é uma compilação de uma série de escritos reunidos pelo autor , que, com o auxílio de três grandes mestres de espada , Chen Wei Ming , Hsiung Yang ho e T. T. Liang , tornou possível o acesso a estes conhecimentos em língua inglesa.
A ARTE sem ARTE
Alguém que seja praticante das Artes Marciais , inevitavelmente em algum momento do caminho , irá deparar-se com a necessidade de manejar seu corpo , sua energia e , ou também sua arma de forma “espiritualizada”.
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Evidentemente , nos habituamos aos treinamentos , que devem desenvolver o conhecimento e conseqüentemente a habilidade e maestria na arte. Porém , este não é um fim em si mesmo. O caminho ainda não está completado .
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Os tratados sobre artes marciais , versam longamente sobre este ponto do caminho . Os mestres explicam que , após o domínio das técnicas , outras habilidades deverão ser conquistadas pelo estudante. Neste momento se fará necessário encontrar-se com a “arte sem arte” , ou com a “arte da não –arte”... Isto significa que , todo o conhecimento e habilidade devem ser transcendidos .
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Eles mesmos tornam-se obstáculos ao caminho . Nossas habilidades ainda sofrem influências da própria mente , do ambiente e dependem do corpo físico.Estamos operando ainda na esfera da dualidade , do mundo manifesto .
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Os mestres observam que os discípulos , mesmo os mais hábeis , perdem a confiança e naturalidade diante de alguém que imaginam ser superiores a eles .Encontrando-se , numa situação ainda pior que a anterior , a dos iniciantes , pois admitem que podem fraquejar diante de alguém com habilidade superior.
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Para eles , parece não haver saída a não ser o treinamento incansável. O próprio mestre não lhes pode aconselhar outra coisa a não ser procurar converter a técnica em arte ! Adquirindo “presença de espírito” ou a “mobilidade do coração”.
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O discípulo só progredirá se ele puder desprender-se de toda a intenção e também de seu próprio eu , onde tudo se desvanecerá no vazio ...Não havendo “eu”, não há adversário , não há meta , não há reflexão ,não há sequer a própria arte...Simplesmente o movimento acontece , “algo” faz acontecer , simplesmente porque é , por que se está ali... Mas como se pode então , espiritualizar a arte?! Como reverter a situação? Bem , simplesmente pela prática diligente , cotidiana, ao mesmo tempo descompromissada... como se “treinássemos” , sem qualquer objetivo...Sem propósito consciente ...
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É sabido que o treino que visa apenas a habilidade , tende a se tornar obsoleto , sem função genuína em nossas vidas. Este estado de consciência é descrito por Eugen Herrigel em seu livro A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen: “Atingir o alvo sem fazer pontaria, esquecendo-se da meta e da intenção de atingi-la.”
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Ou ainda , no texto de Gusty Herrigel em O Zen Na Arte Da Cerimônia das Flores : “ A longa prática vai dando polimento aos hábitos, até que a forma pura fale através da obra.Nas etapas avançadas da evolução, a originalidade se mostrará cada vez mais livre , tornando-se despojada e límpida, até fundir-se com a verdade pura , na unidade perfeita , que se expressa na essência da arte .”
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Este estado de coisas também pode ser comparado, ainda mais profundamente , à maneira de viver , como diz D. T. Suzuky : “Viver Bem , inclui uma certa técnica , inclui escolhas e adaptações...O que é diferente da Arte de Viver, que engendra a compreensão do seu significado , a apreensão de seu mistério”.
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Em verdade se treina para que um dia tudo isto possa ser abandonado.Todo o tempo as artes nos encaminham para esse lugar.
O mestre teria a responsabilidade de fazer com que o aluno descubra a via de acesso a este caminho , que não inclui , todavia, o intelecto .
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Como podemos ver , esta questão é amplamente citada em toda a literatura Zen , mais especificamente, àquela chamada de o “ Zen do guerreiro”, já que a classe Samurai encontrou no Zen , uma enorme fonte de alimento e serenidade. Inclusive , dentro das artes marciais japonesas há o BuDo, ou” o caminho do guerreiro”: O conceito Do , pode ser comparado ao Tao e permeia todo o treinamento Zen , onde a experiência direta do estado meditativo é o objetivo e foco do treinamento , chamado de Mushin, ou não-mente.
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No Taoísmo esse estado chama-se Shen Ming . Como se a própria mutação , ou “a dança das dez mil coisas”, nos levassem naturalmente à grande diluição , ao silêncio , ao estado de ausência , para a fusão com o Tao , com o Princípio que rege todas as coisas . Assim , não há mais arte , nem tampouco o artista...
Podemos então , nos abrir para esta possibilidade , a partir de um propósito de abetura e constante permissão , para simplesmente deixar que nossa prática “seja”!
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Evidentemente , nos habituamos aos treinamentos , que devem desenvolver o conhecimento e conseqüentemente a habilidade e maestria na arte. Porém , este não é um fim em si mesmo. O caminho ainda não está completado .
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Os tratados sobre artes marciais , versam longamente sobre este ponto do caminho . Os mestres explicam que , após o domínio das técnicas , outras habilidades deverão ser conquistadas pelo estudante. Neste momento se fará necessário encontrar-se com a “arte sem arte” , ou com a “arte da não –arte”... Isto significa que , todo o conhecimento e habilidade devem ser transcendidos .
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Eles mesmos tornam-se obstáculos ao caminho . Nossas habilidades ainda sofrem influências da própria mente , do ambiente e dependem do corpo físico.Estamos operando ainda na esfera da dualidade , do mundo manifesto .
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Os mestres observam que os discípulos , mesmo os mais hábeis , perdem a confiança e naturalidade diante de alguém que imaginam ser superiores a eles .Encontrando-se , numa situação ainda pior que a anterior , a dos iniciantes , pois admitem que podem fraquejar diante de alguém com habilidade superior.
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Para eles , parece não haver saída a não ser o treinamento incansável. O próprio mestre não lhes pode aconselhar outra coisa a não ser procurar converter a técnica em arte ! Adquirindo “presença de espírito” ou a “mobilidade do coração”.
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O discípulo só progredirá se ele puder desprender-se de toda a intenção e também de seu próprio eu , onde tudo se desvanecerá no vazio ...Não havendo “eu”, não há adversário , não há meta , não há reflexão ,não há sequer a própria arte...Simplesmente o movimento acontece , “algo” faz acontecer , simplesmente porque é , por que se está ali... Mas como se pode então , espiritualizar a arte?! Como reverter a situação? Bem , simplesmente pela prática diligente , cotidiana, ao mesmo tempo descompromissada... como se “treinássemos” , sem qualquer objetivo...Sem propósito consciente ...
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É sabido que o treino que visa apenas a habilidade , tende a se tornar obsoleto , sem função genuína em nossas vidas. Este estado de consciência é descrito por Eugen Herrigel em seu livro A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen: “Atingir o alvo sem fazer pontaria, esquecendo-se da meta e da intenção de atingi-la.”
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Ou ainda , no texto de Gusty Herrigel em O Zen Na Arte Da Cerimônia das Flores : “ A longa prática vai dando polimento aos hábitos, até que a forma pura fale através da obra.Nas etapas avançadas da evolução, a originalidade se mostrará cada vez mais livre , tornando-se despojada e límpida, até fundir-se com a verdade pura , na unidade perfeita , que se expressa na essência da arte .”
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Este estado de coisas também pode ser comparado, ainda mais profundamente , à maneira de viver , como diz D. T. Suzuky : “Viver Bem , inclui uma certa técnica , inclui escolhas e adaptações...O que é diferente da Arte de Viver, que engendra a compreensão do seu significado , a apreensão de seu mistério”.
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Em verdade se treina para que um dia tudo isto possa ser abandonado.Todo o tempo as artes nos encaminham para esse lugar.
O mestre teria a responsabilidade de fazer com que o aluno descubra a via de acesso a este caminho , que não inclui , todavia, o intelecto .
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Como podemos ver , esta questão é amplamente citada em toda a literatura Zen , mais especificamente, àquela chamada de o “ Zen do guerreiro”, já que a classe Samurai encontrou no Zen , uma enorme fonte de alimento e serenidade. Inclusive , dentro das artes marciais japonesas há o BuDo, ou” o caminho do guerreiro”: O conceito Do , pode ser comparado ao Tao e permeia todo o treinamento Zen , onde a experiência direta do estado meditativo é o objetivo e foco do treinamento , chamado de Mushin, ou não-mente.
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No Taoísmo esse estado chama-se Shen Ming . Como se a própria mutação , ou “a dança das dez mil coisas”, nos levassem naturalmente à grande diluição , ao silêncio , ao estado de ausência , para a fusão com o Tao , com o Princípio que rege todas as coisas . Assim , não há mais arte , nem tampouco o artista...
Podemos então , nos abrir para esta possibilidade , a partir de um propósito de abetura e constante permissão , para simplesmente deixar que nossa prática “seja”!