Grã Mestra Shen Hai Min

Demonstração da Grã Mestra Shen Hai Min

- Tai chi ESPADA

ESPADA TAI CHI TIEN


Profª Ana Cloe Marrelli
Art’Chi


Na tradição das Artes Marciais Chinesas , a espada é considerada a mais nobre entre as armas por simbolizar busca espiritual através do corte das ilusões ! Sua prática exige precisão, graça e beleza pois demonstra a maneira como devemos trilhar este caminho .
A Espada Yang 54 ensinada conforme o método da Grã-Mestra Shen Hai-Min, conjuga leveza à força interior, proporcionando um entendimento aprofundado da Arte do Taiji .

A arte do manejo da espada , pode ser comparada à arte da caligrafia: Requer exatidão , refinamento , onde a espada , assim como o pincel , deve tornar-se a extensão do braço do artista e também deve representar sua energia interior , sua energia pessoal.

Na prática com a espada , três aspectos devem ser lembrados : O primeiro deles pode ser novamente comparado ao uso do pincel , na caligrafia chinesa :A espada deve ser segurada de uma maneira relaxada – não fortemente “agarrada” como fazem os japoneses , com suas espadas e pincéis: Os calígrafos japoneses dão pinceladas fortes e vigorosas e os calígrafos chineses fazem uso maior da suavidade e como no Tai Chi Chuan, praticam a idéia do Yin e Yang , da neutralização e emissão de energia.

Um segundo aspecto , muito peculiar , diz respeito ao fato de que: Ao aplicarmos um golpe , este deve ser objetivo e muito preciso... No momento em que é desferido um golpe cortante no corpo do oponente , por exemplo, o praticante deve mirar num dos pulsos ou em algum ponto específico , de circulação de CHI , para impedir que o adversário use a sua espada. Isto significa que se deve saber exatamente onde golpear , para que seja despendido um mínimo de energia .

O terceiro ponto , talvez o mais profundo de todos os três , é que a prática da espada deve trazer à tona nossa força interior e também as “energias intrínsecas”_( JIN’S) . A ponta e a lâmina da espada se tornam uma extensão de nosso corpo enquanto expressam essas energias. Isto só pode ser atingido através da habilidade em relaxar, trazendo a energia do fundo dos pés até a ponta da espada , ou seja , soltando e direcionando a energia intrínseca para tornar a aplicação precisa e efetiva.

Muitos Taoístas praticam a espada como Chi Kung e mesmo marcialmente , pois a espada é uma arma completa em si mesma .
Os dois mais famosos centros para a prática da espada Tai Chi estão localizadas em Hua Shan e nas montanhas Wu –T’ang . Estes dois centros , juntamente com as famílias Chen e Yang , têm ajudado a promover e preservar a arte da espada Tai Chi.

A maneira tradicional de executar as formas de espada é um pouco mais rápida do que a execução das formas de mãos livres . Aliás , as armas em geral não são praticadas de forma idêntica às formas solo , principalmente no que diz respeito à velocidade. As armas desenvolvem outras habilidades , além do enraizamento , desenvolvimento do chi e intenção mental. A espada desenvolve as mãos , os braços e ensina o praticante a estender a energia intrínseca através da arma e também expressar as sutilezas dos movimentos Yin e Yang .

Bem , vale lembrar também que as formas de espada , podem ser executadas de forma lenta , como quando se pratica as formas de mãos livres. Sun LuTang ,por exemplo , o idealizador do estilo Sun de Tai chi,desenvolveu esta maneira de praticar a espada.Ele também era um adepto de Pa kua e Hsing-Yi . Escreveu um livro sobre espada Pa Kua , que não foi completado devido a sua morte.Enfim , sua maneira lenta de conduzir a espada influenciou muitos praticantes de Tai Chi.

A espada possui um tassel atado a ela , o que cria mais uma razão para que se pratique de forma mais rápida , pois , de outra maneira , simplesmente o tassel não seria utilizado. O tassel, expressa o grau de habilidade no manejo da espada , pois é um elemento a mais a ser integrado e utilizado harmoniosamente . Ele conduz alguns movimentos , dando graça e beleza à forma , podendo ser usado também de forma ofensiva , tornando a prática muito refinada. Assim,os movimentos da lâmina , aliados ao do tassel , podem ser também um dos indicadores do nível atingido pelo praticante.

Em relação à mão esquerda , podemos dizer que esta possui uma função de suporte à espada:Os dedos indicador e médio , juntam-se , enquanto o polegar é dobrado sobre o dedo mínimo , como se a mão fosse transformada em uma outra espada.... Esta espada invisível estimula a circulação de CHI através dos pulsos e pode ser usada para atingir o oponente em seus pontos vitais.Vale lembrar também que o braço e a mão esquerda dão graça e beleza aos movimentos da espada , harmonizando o fluxo de energia.

T. T. Liang , principal discípulo de Chen Man-ching , dizia que , na mística tradição da Espada Tai Chi , o praticante deve cultivar seu espírito até poder juntar-se aos imortais..
A espada atravessa os tempos e portanto fascina culturas pelo mundo afora , como símbolo de poder iniciático... Ícone da coragem e poder.

No Oriente , a espada é arte , arte espiritual, veículo da transcendência.
Na iconografia budista, por exemplo, a espada evoca o ato de “cortar” a ignorância e a ilusão, exorcisando-as da consciência....Na tradição Taoísta , os Imortais “apontam o caminho “ com suas espadas. Aliás , “o Imortal aponta o caminho” é também o nome de uma das primeiras posturas na forma de Espada Tai Chi. Os princípios da Espada , se bem compreendidos e cultivados , devem guiar-nos à iluminação, ao estado de Shen Ming , de realização , onde a espada não é mais necessária , onde há somente a“arte sem arte”...
Quando praticamos as formas com qualquer tipo de arma , devemos desenvolver a habilidade de enviar nossa energia além do nosso corpo,ou seja , o Chi deve animar os movimentos , deve expressar-se através e para além de nossas mãos...A espada , como arma nobre e sofisticada , deve condensar a maestria do Chi.

As energias intrínsecas , ou as diferentes qualidades e expressões da energia interior , ou “JIN” ,devem ser cultivadas através da alquimia interna: O SHEN/YI (espírito-mente) e o CHI, quando relacionados , levam a uma expressão energética que deve ser transmitida à espada . Seus movimentos devem expressar diferentes qualidades energéticas , diferentes manifestações. Por exemplo : Além de Peng Jin ( a energia de expandir) , Lie Jin( a energia de cortar , partir , dividir) , Fa Jin ( a energia de emitir) , Li Jin ( a energia de ceder ), San Tzu Jin ( a energia de espiralar), a espada requer também outras qualidades de Jin como a energia do açoitar , interceptar , apunhalar ,bloquear , penetrar ...

Essas energias fornecem as chaves umas das outras , desenvolvendo nossas faculdades sensitivas , pois também são aspectos internos de uma postura.
Quando praticamos, a energia intrínseca é dirigida para as mãos , estendida para fora , expressando o Jin através da espada.Assim , a arma expressa todo o fluxo energético.Vale lembrar também, que as armas mantém todos os outros princípios clássicos de movimentação, próprios ao sistema Tai Chi.

OBS: Este texto é uma compilação e tradução livre , que procurou elucidar algumas idéias contidas na introdução do livro: “Tai Chi Thirteen Sword- A Sword Master’s Manual” de Stuart Olson . Esse livro é uma compilação de uma série de escritos reunidos pelo autor , que, com o auxílio de três grandes mestres de espada , Chen Wei Ming , Hsiung Yang ho e T. T. Liang , tornou possível o acesso a estes conhecimentos em língua inglesa.

TEXTOS de Ana Cloe

A MENTE E OS PARADIGMAS
QUE REGEM A PRÁTICA

É sabido que a mente possui, como atribuição que lhe é própria , o mecanismo subjetivo de discriminar , generalizar , julgar , proferir verdades e se identificar com estes mesmos mecanismos a fim de criar um conjunto mais ou menos organizado , que denominamos “ ego” .
Aos poucos e até mesmo inconscientemente , estes mecanismos subjetivos que estruturam nosso Ego , vão se cristalizando e formam o que chamamos de PARADIGMA : Nosso sistema de crenças , nosso referencial interno , nosso ponto de vista , o modelo a partir do qual pautamos nossas escolhas e regulamos nosso comportamento...Enfim , o paradigma é o modo como concebemos o mundo e a nós mesmos.
Assim , podemos afirmar que: a escolha pelo Tai Chi , a maneira como alguém se relaciona com ele e conseqüentemente a maneira como o sujeito movimenta seu corpo , sejam , enfim , o reflexo de um paradigma... O reflexo do que o Tai Chi representa mentalmente .
Por exemplo: Se eu entendo que o Tai Chi é uma prática relaxante , provavelmente este aspecto será por mim priorizado e posso não dar muita importância à maneira como tecnicamente deveria movimentar meu corpo . Ou ainda : Se penso que o Tai Chi tem uma enorme eficácia marcial , eu poderia querer especializar - me na arte do Tui Shou ...Estas percepções da realidade , que nos motivam , em última instância , nos mostram como os paradigmas interferem no curso , no aprendizado do estudante .Também os professores , com seus paradigmas , priorizaram a forma e o conteúdo do seu próprio aprendizado , interferindo , naturalmente na maneira de conduzir as aulas ...
O principal objetivo dos exemplos citados é justamente demonstrar como os paradigmas podem “ raptar a magnitude ” do Tai Chi , tornando-o submetido às concepções e às necessidades de cada um , tornando-o demasiadamente restrito , “pessoal” como um “refém” do Ego , onde as pessoas não estão dentro do sistema Tai Chi , mas , ao contrário , fazem com que o Tai Chi seja e esteja dentro delas , com se ele devesse adaptar-se ao Ego e não o contrário... . Como se o Tai Chi tivesse a personalidade do próprio praticante . Isso causa toda uma série de desvios e enganos.
Muitas vezes , as pessoas têm , por diversos motivos e talvez um deles seja justamente o paradigma por elas adotado , muita dificuldade de estarem submetidas aos motivos , às regras e técnicas que são parte da essência da arte , que conferem identidade e personalidade ao sistema Tai Chi . Com isso , insistem em imprimir seus Egos na forma e movimento , cometendo um engano , pois deveria ser o Tai Chi a estar se imprimindo nelas. Como se o contato com a essência desta Arte estivesse impedido pelas próprias limitações da percepção pessoal da realidade . Às vezes é preciso “sair um pouco “ de si mesmo , entregar-se e , realmente experimentar o Tai Chi . Ter coragem para enfrentar nossas limitações sem maquiagens ou manipulações mentais . Por isso a prática do Tai Chi pode ser uma maravilhosa experiência de auto- conhecimento , de conciêntização de processos inconscientes que regem nosso comportamento e nossa relação com o Tai Chi Corremos o risco de conhecer apenas a ponta do iceberg !



Todos nós , em geral , realmente temos que cultivar nossa atitude de abertura , entrega e confiança , já que temos a tendência natural de sermos dominados pela mente , ou seja , pelas nossas necessidades , pelo Inconsciente , pela nossa história de vida...Tudo isto termina “escoando” para a prática do Tai Chi.
Tai Chi é um conceito filosófico . Então , para que possamos representar o Tao através das Formas , do Tui Shou , teremos que procurar adequar nossos paradigmas , elevar nossa compreensão e entrega .A mente , inquieta como de costume, busca “recriar condições ” que se adaptem à demanda de conforto do Ego , onde os fatores que dificultam o progresso sejam “eliminados” , sem muito esforço ! Com isso , a essência do Tai Chi é perdida . O Ego procura perfeição , porém , através de seu próprios métodos .
Os movimentos devem intencionar à perfeição corporal e energética .A exatidão deve ser buscada , simplesmente porque assim é o Tao . Por isso , há necessidade de adaptar-se às regras da Forma e movimentação.
O Tai Chi é definido também por “meditação em movimento”. Meditação como um estado de quietude , gerado por um fluxo energético incessante, contínuo , desobstruído. Por isso , há necessidade de respeitarmos os requisitos técnicos , baseados na lógica energética do equilíbrio . Tai Chi é a Arte do equilíbrio . Os movimentos são projetados para expressar alternância entre Yin e Yang . Isto precisa acontecer internamente para ser expressado através do movimento . Esta é a intenção . Às vezes , atribuímos outra intenção ao movimento. Esta intenção é a “nossa própria e não a do movimento em si.. ” O aperfeiçoamento da arte , da dita meditação em movimento viria então , com a capacidade da alternância dos estados Yin e Yang , contextualizado em um determinado movimento. Deve-se pois , alcançar um estado de despojamento da sua própria identidade energética , entregando-se , o praticante , inteiramente à demanda energética de cada movimento.A identificação com determinado padrão gera um desequilíbrio de forças , uma polarização . Deve-se trabalhar cada movimento com a intenção de retornar incessantemente e continuamente ao estado de fluidez, desobstruído , não tendencioso , não articulado a qualquer idéia pessoal de como as coisas devem ser .
Na verdade , o Tai Chi flui para a ausência , para o silêncio , para a meditação. Nossa verdadeira identidade também é vazia e ausente. Devemos fluir para este encontro ... Por isso , precisamos conhecer alguns mecanismos que regem o funcionamento mental para que possamos realmente experimentar o Tai Chi . A mente não deve ser negligenciada, pois seus mecanismos podem ser veículo ou o maior impedimento para que se apreenda o que é a essência do Tai Chi : “ausente e silenciosa “ .



DICAS impotantes para a PRÁTICA
do Tai chi com a ESPADA

A ) Sigam os princípios do Taiji :
- O movimento começa pela cintura ( Tan-tien ) , arredondem as articulações , ombros e cotovelos abaixados , joelhos flexionados , topo da cabeça “leve” , passos firmes e suaves , pernas e braços coordenados pelo eixo ( cintura-tronco) . O peso vai junto com o movimento .

B ) Sigam a regra dos 70% :
- Não estiquem os braços , não deixem a postura ficar “angulosa” ou tensa desnecesariamente . Procurem o círculo dentro do movimento .

C ) A energia ( CHI ) ,
precisa passar através da espada :
- Os cotovelos flexíveis são essenciais para que a energia “corra” através da espada . Em todas as posturas .
- Lembrem-se : Para que a espada emita energia de “corte” , técnicamente devemos seguir as seguintes etapas : Primeiro a guarda (punho da espada) e , por último a lâmina . Isso evitará que suas espadas pareçam vassouras ... Lembram-se ?
- Suas espadas precisam “emitir” e/ou expressar uma série de energias: cortar , retalhar , penetrar , estocar , furar , bloquear ...

D ) O braço esquerdo :
- Normalmente “defende” , fazendo movimentos circulares , projetando-se ligeiramente antes da espada .

E ) A mão esquerda :
- Precisa fazer corretamente o MUDRA ( postura dos dedos e da mão) que representa a “outra” espada .
- Na maioria das vezes esta mão faz contato com o pulso ou ombro direito . Mas , cuidado : “ O braço direito não é cabide para a mão esquerda”.

F ) Atitude :
- Mantenha a mente concentrada e o espírito alerta . O olhar deve expressar vivacidade e “ir” guiando o movimento . Não abaixe a cabeça , não olhe diretamente para a espada . Concentre-se na direção do movimento , “alongando” sua intenção ...

Por Ana Cloe
ESPADA TAI CHI
– CONSIDERAÇÕES INICIAIS TAI CHI TIEN
A arte do manejo da espada , pode ser comparada à arte da caligrafia: Requer exatidão , refinamento , onde a espada , assim como o pincel , deve tornar-se a extensão do braço do artista e também deve representar sua energia interior , sua energia pessoal.
Na prática com a espada , três aspectos devem ser lembrados : O primeiro deles pode ser novamente comparado ao uso do pincel , na caligrafia chinesa :A espada deve ser segurada de uma maneira relaxada – não fortemente “agarrada” como fazem os japoneses , com suas espadas e pincéis: Os calígrafos japoneses dão pinceladas fortes e vigorosas e os calígrafos chineses fazem uso maior da suavidade e como no Tai Chi Chuan, praticam a idéia do Yin e Yang , da neutralização e emissão de energia.
Um segundo aspecto , muito peculiar , diz respeito ao fato de que: Ao aplicarmos um golpe , este deve ser objetivo e muito preciso... No momento em que é desferido um golpe cortante no corpo do oponente , por exemplo, o praticante deve mirar num dos pulsos ou em algum ponto específico , de circulação de CHI , para impedir que o adversário use a sua espada. Isto significa que se deve saber exatamente onde golpear , para que seja despendido um mínimo de energia .
O terceiro ponto , talvez o mais profundo de todos os três , é que a prática da espada deve trazer à tona nossa força interior e também as “energias intrínsecas”_( JIN’S) . A ponta e a lâmina da espada se tornam uma extensão de nosso corpo enquanto expressam essas energias. Isto só pode ser atingido através da habilidade em relaxar, trazendo a energia do fundo dos pés até a ponta da espada , ou seja , soltando e direcionando a energia intrínseca para tornar a aplicação precisa e efetiva.

Muitos Taoístas praticam a espada como Chi Kung e mesmo marcialmente , pois a espada é uma arma completa em si mesma .
Os dois mais famosos centros para a prática da espada Tai Chi estão localizadas em Hua Shan e nas montanhas Wu –T’ang . Estes dois centros , juntamente com as famílias Chen e Yang , têm ajudado a promover e preservar a arte da espada Tai Chi.
A maneira tradicional de executar as formas de espada é um pouco mais rápida do que a execução das formas de mãos livres . Aliás , as armas em geral não são praticadas de forma idêntica às formas solo , principalmente no que diz respeito à velocidade. As armas desenvolvem outras habilidades , além do enraizamento , desenvolvimento do chi e intenção mental. A espada desenvolve as mãos , os braços e ensina o praticante a estender a energia intrínseca através da arma e também expressar as sutilezas dos movimentos Yin e Yang .
Bem , vale lembrar também que as formas de espada , podem ser executadas de forma lenta , como quando se pratica as formas de mãos livres. Sun LuTang ,por exemplo , o idealizador do estilo Sun de Tai chi,desenvolveu esta maneira de praticar a espada.Ele também era um adepto de Pa kua e Hsing-Yi . Escreveu um livro sobre espada Pa Kua , que não foi completado devido a sua morte.Enfim , sua maneira lenta de conduzir a espada influenciou muitos praticantes de Tai Chi.
A espada possui um tassel atado a ela , o que cria mais uma razão para que se pratique de forma mais rápida , pois , de outra maneira , simplesmente o tassel não seria utilizado. O tassel, expressa o grau de habilidade no manejo da espada , pois é um elemento a mais a ser integrado e utilizado harmoniosamente . Ele conduz alguns movimentos , dando graça e beleza à forma , podendo ser usado também de forma ofensiva , tornando a prática muito refinada. Assim,os movimentos da lâmina , aliados ao do tassel , podem ser também um dos indicadores do nível atingido pelo praticante.
Em relação à mão esquerda , podemos dizer que esta possui uma função de suporte à espada:Os dedos indicador e médio , juntam-se , enquanto o polegar é dobrado sobre o dedo mínimo , como se a mão fosse transformada em uma outra espada.... Esta espada invisível estimula a circulação de CHI através dos pulsos e pode ser usada para atingir o oponente em seus pontos vitais.Vale lembrar também que o braço e a mão esquerda dão graça e beleza aos movimentos da espada , harmonizando o fluxo de energia.
T. T. Liang , principal discípulo de Chen Man-ching , dizia que , na mística tradição da Espada Tai Chi , o praticante deve cultivar seu espírito até poder juntar-se aos imortais...

A espada atravessa os tempos e portanto fascina culturas pelo mundo afora , como símbolo de poder iniciático... Ícone da coragem e poder.
No Oriente , a espada é arte , arte espiritual, veículo da transcendência.
Na iconografia budista, por exemplo, a espada evoca o ato de “cortar” a ignorância e a ilusão, exorcisando-as da consciência....Na tradição Taoísta , os Imortais “apontam o caminho “ com suas espadas. Aliás , “o Imortal aponta o caminho” é também o nome de uma das primeiras posturas na forma de Espada Tai Chi. Os princípios da Espada , se bem compreendidos e cultivados , devem guiar-nos à iluminação, ao estado de Shen Ming , de realização , onde a espada não é mais necessária , onde há somente a“arte sem arte”...
Quando praticamos as formas com qualquer tipo de arma , devemos desenvolver a habilidade de enviar nossa energia além do nosso corpo,ou seja , o Chi deve animar os movimentos , deve expressar-se através e para além de nossas mãos...A espada , como arma nobre e sofisticada , deve condensar a maestria do Chi.
As energias intrínsecas , ou as diferentes qualidades e expressões da energia interior , ou “JIN” ,devem ser cultivadas através da alquimia interna: O SHEN/YI (espírito-mente) e o CHI, quando relacionados , levam a uma expressão energética que deve ser transmitida à espada . Seus movimentos devem expressar diferentes qualidades energéticas , diferentes manifestações. Por exemplo : Além de Peng Jin ( a energia de expandir) , Lie Jin( a energia de cortar , partir , dividir) , Fa Jin ( a energia de emitir) , Li Jin ( a energia de ceder ), San Tzu Jin ( a energia de espiralar), a espada requer também outras qualidades de Jin como a energia do açoitar , interceptar , apunhalar ,bloquear , penetrar ...
Essas energias fornecem as chaves umas das outras , desenvolvendo nossas faculdades sensitivas , pois também são aspectos internos de uma postura.
Quando praticamos, a energia intrínseca é dirigida para as mãos , estendida para fora , expressando o Jin através da espada.Assim , a arma expressa todo o fluxo energético.Vale lembrar também, que as armas mantém todos os outros princípios clássicos de movimentação, próprios ao sistema Tai Chi.

OBS: Este texto é uma compilação e tradução livre , que procurou elucidar algumas idéias contidas na introdução do livro: “Tai Chi Thirteen Sword- A Sword Master’s Manual” de Stuart Olson . Esse livro é uma compilação de uma série de escritos reunidos pelo autor , que, com o auxílio de três grandes mestres de espada , Chen Wei Ming , Hsiung Yang ho e T. T. Liang , tornou possível o acesso a estes conhecimentos em língua inglesa.


A ARTE sem ARTE

Alguém que seja praticante das Artes Marciais , inevitavelmente em algum momento do caminho , irá deparar-se com a necessidade de manejar seu corpo , sua energia e , ou também sua arma de forma “espiritualizada”.
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Evidentemente , nos habituamos aos treinamentos , que devem desenvolver o conhecimento e conseqüentemente a habilidade e maestria na arte. Porém , este não é um fim em si mesmo. O caminho ainda não está completado .
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Os tratados sobre artes marciais , versam longamente sobre este ponto do caminho . Os mestres explicam que , após o domínio das técnicas , outras habilidades deverão ser conquistadas pelo estudante. Neste momento se fará necessário encontrar-se com a “arte sem arte” , ou com a “arte da não –arte”... Isto significa que , todo o conhecimento e habilidade devem ser transcendidos .
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Eles mesmos tornam-se obstáculos ao caminho . Nossas habilidades ainda sofrem influências da própria mente , do ambiente e dependem do corpo físico.Estamos operando ainda na esfera da dualidade , do mundo manifesto .
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Os mestres observam que os discípulos , mesmo os mais hábeis , perdem a confiança e naturalidade diante de alguém que imaginam ser superiores a eles .Encontrando-se , numa situação ainda pior que a anterior , a dos iniciantes , pois admitem que podem fraquejar diante de alguém com habilidade superior.
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Para eles , parece não haver saída a não ser o treinamento incansável. O próprio mestre não lhes pode aconselhar outra coisa a não ser procurar converter a técnica em arte ! Adquirindo “presença de espírito” ou a “mobilidade do coração”.
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O discípulo só progredirá se ele puder desprender-se de toda a intenção e também de seu próprio eu , onde tudo se desvanecerá no vazio ...Não havendo “eu”, não há adversário , não há meta , não há reflexão ,não há sequer a própria arte...Simplesmente o movimento acontece , “algo” faz acontecer , simplesmente porque é , por que se está ali... Mas como se pode então , espiritualizar a arte?! Como reverter a situação? Bem , simplesmente pela prática diligente , cotidiana, ao mesmo tempo descompromissada... como se “treinássemos” , sem qualquer objetivo...Sem propósito consciente ...
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É sabido que o treino que visa apenas a habilidade , tende a se tornar obsoleto , sem função genuína em nossas vidas. Este estado de consciência é descrito por Eugen Herrigel em seu livro A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen: “Atingir o alvo sem fazer pontaria, esquecendo-se da meta e da intenção de atingi-la.”
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Ou ainda , no texto de Gusty Herrigel em O Zen Na Arte Da Cerimônia das Flores : “ A longa prática vai dando polimento aos hábitos, até que a forma pura fale através da obra.Nas etapas avançadas da evolução, a originalidade se mostrará cada vez mais livre , tornando-se despojada e límpida, até fundir-se com a verdade pura , na unidade perfeita , que se expressa na essência da arte .”
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Este estado de coisas também pode ser comparado, ainda mais profundamente , à maneira de viver , como diz D. T. Suzuky : “Viver Bem , inclui uma certa técnica , inclui escolhas e adaptações...O que é diferente da Arte de Viver, que engendra a compreensão do seu significado , a apreensão de seu mistério”.
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Em verdade se treina para que um dia tudo isto possa ser abandonado.Todo o tempo as artes nos encaminham para esse lugar.
O mestre teria a responsabilidade de fazer com que o aluno descubra a via de acesso a este caminho , que não inclui , todavia, o intelecto .
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Como podemos ver , esta questão é amplamente citada em toda a literatura Zen , mais especificamente, àquela chamada de o “ Zen do guerreiro”, já que a classe Samurai encontrou no Zen , uma enorme fonte de alimento e serenidade. Inclusive , dentro das artes marciais japonesas há o BuDo, ou” o caminho do guerreiro”: O conceito Do , pode ser comparado ao Tao e permeia todo o treinamento Zen , onde a experiência direta do estado meditativo é o objetivo e foco do treinamento , chamado de Mushin, ou não-mente.
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No Taoísmo esse estado chama-se Shen Ming . Como se a própria mutação , ou “a dança das dez mil coisas”, nos levassem naturalmente à grande diluição , ao silêncio , ao estado de ausência , para a fusão com o Tao , com o Princípio que rege todas as coisas . Assim , não há mais arte , nem tampouco o artista...
Podemos então , nos abrir para esta possibilidade , a partir de um propósito de abetura e constante permissão , para simplesmente deixar que nossa prática “seja”!